A Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul está investigando um esquema criminoso envolvendo a venda de 800 toneladas de carne estragada que, originalmente, deveriam ser descartadas ou transformadas em ração animal. A carne foi vendida para consumo humano, após passar por um processo de maquiação para esconder os danos causados pelas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul.
O caso começou a ser investigado após a tragédia das enchentes no estado, ocorrida há oito meses. Um frigorífico de Canoas, cidade próxima a Porto Alegre, vendeu a carne contaminada para a empresa Tem Di Tudo Salvados, localizada em Três Rios, no Centro-Sul Fluminense. A transação foi feita sob a alegação de que o produto seria destinado à produção de ração animal. No entanto, as investigações apontaram que a carne foi desviada para o mercado de consumo humano, após ser lavada para remover sinais de lama e embalada em caixas de carne nobre importada do Uruguai.
O esquema criminoso foi descoberto quando o frigorífico gaúcho identificou, pela numeração do lote nas embalagens, que a carne vendida para ser transformada em ração estava sendo oferecida novamente no mercado. A polícia descobriu que a carga foi revendida por uma rede de empresas e, em determinado momento, retornou ao frigorífico, que alertou as autoridades.

Foto: Reprodução/TV Globo
Durante as investigações, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão na empresa Tem Di Tudo, onde encontrou duas toneladas de carne podre ainda à venda e outros produtos impróprios para consumo, como medicamentos vencidos e produtos de beleza com prazo de validade expirado. Dois sócios da empresa foram presos, sendo que um deles, o gerente Sílio José Marino, revelou em depoimento que a carne foi transportada em 30 carretas para diversas regiões do país, embora não tenha informado os destinos finais. A polícia agora tenta rastrear as notas fiscais para localizar os pontos de distribuição.
A Vigilância Sanitária reforçou que qualquer carne que tenha sido exposta a enchentes representa um grande risco à saúde, podendo causar infecções graves, e que ela deve ser descartada imediatamente, sem ser utilizada nem para ração animal. A superintendente do órgão no Rio, Helen Keller Barreto, alertou para o risco elevado à saúde humana e animal, afirmando que “toda carne que tenha passado por enchentes deve ser descartada”.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul afirmou que a venda da carne para a Tem Di Tudo foi devidamente registrada com nota fiscal, e que a responsabilidade de classificar o produto como adequado para consumo ou para ração era da empresa compradora. A Prefeitura de Canoas, por sua vez, orientou o descarte de todos os produtos contaminados pela água da enchente.
O delegado Wellington Vieira, responsável pelas investigações, lamentou a atitude dos envolvidos no esquema e destacou o desrespeito pelas vítimas da tragédia. “É revoltante ver a ganância humana levar a esse tipo de crime, especialmente em um momento de tanta dor para a população”, declarou.
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