Foto: Reuters/Carlos Barria
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no domingo (4) uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora do país e enviados ao mercado americano. Para ele, a medida protegerá a indústria cinematográfica nacional, que, segundo suas palavras, “morre muito rápido” por conta dos incentivos fiscais de outras nações.
Segundo Trump, governos estrangeiros oferecem condições vantajosas para atrair cineastas e estúdios. Por isso, ele classificou a prática como uma “ameaça à segurança nacional”. A proposta já está nas mãos do Departamento de Comércio e do Escritório do Representante Comercial dos EUA, que devem iniciar o processo de regulamentação.
“Queremos filmes produzidos na América de novo”, publicou Trump em sua rede social Truth Social.
Incertezas sobre a aplicação da tarifa
Apesar do anúncio enfático, a proposta ainda levanta dúvidas. Trump não esclareceu se a tarifa afetará serviços de streaming, bilheteria de cinemas ou apenas produções físicas. Também não está claro se as novas regras atingirão apenas filmes produzidos por empresas estrangeiras ou também produções de estúdios americanos filmadas no exterior.
Especialistas da indústria consideram difícil aplicar esse tipo de tarifação em propriedade intelectual. Ao contrário de produtos manufaturados, filmes não passam por fronteiras alfandegárias tradicionais. Ainda há incerteza sobre quem pagaria essa tarifa — o distribuidor, o produtor ou a plataforma de exibição.
“Há muitas perguntas e poucas respostas”, afirmou Paolo Pescatore, analista da PP Foresight. “Os custos provavelmente acabarão nos ombros do consumidor.”
Hollywood já filma fora dos EUA há anos
Estúdios como Disney, Netflix e Universal já adotam há décadas locações internacionais para filmagens. Cidades como Vancouver, Londres, Budapeste, Roma e Wellington tornaram-se centros estratégicos, oferecendo incentivos que reduzem custos de produção em até 50%.
Produções recentes, como “Missão: Impossível – O Acerto Final”, foram gravadas em países como Reino Unido, Noruega e África do Sul. “Thunderbolts*”, da Marvel, também usou locações internacionais e trilhas sonoras produzidas em Londres.
A FilmLA apontou uma queda de 40% na produção cinematográfica em Los Angeles na última década. Segundo a consultoria ProdPro, metade dos gastos de grandes produções americanas em 2023 ocorreu fora dos EUA.
Reações internacionais e consequências para o Brasil
Austrália e Nova Zelândia já manifestaram preocupação. Os dois países, que atraem grandes produções como “O Senhor dos Anéis”, pretendem defender suas indústrias audiovisuais.
No Brasil, a medida não deve impactar diretamente as bilheterias. Filmes brasileiros já têm presença tímida nos cinemas norte-americanos. Porém, o presidente da Associação Nacional das Distribuidoras Audiovisuais Independentes (Andai), Felipe Lopes, alerta que o catálogo de filmes estrangeiros pode diminuir nos EUA.
“Isso reforça a necessidade de políticas nacionais de incentivo ao audiovisual. É preciso defender a soberania cultural do Brasil com produção local forte e diversa”, afirmou.
Lopes também destaca que o Brasil deveria seguir o exemplo de países europeus, que já taxam plataformas de streaming e obrigam investimentos em conteúdo nacional. A proposta de Trump pode servir de argumento para políticas semelhantes por aqui.
Fontes:
g1.globo.com
agenciabrasil.ebc.com.br