A atriz francesa Brigitte Bardot, um dos maiores ícones do cinema mundial e símbolo da liberdade feminina nos anos 1960, morreu neste domingo (28), aos 91 anos, em sua casa, em Saint-Tropez, no sul da França. A morte foi confirmada pela Fundação Brigitte Bardot. Bardot deixa um legado que ultrapassa as telas: revolucionou costumes, influenciou moda e comportamento e, no Brasil, foi responsável por transformar Armação dos Búzios de vila de pescadores em destino turístico internacional.
Uma estrela que redefiniu o cinema e os costumes
Nascida em Paris, em 28 de setembro de 1934, Brigitte Bardot iniciou cedo a formação artística, estudando balé clássico ainda na adolescência. Aos 15 anos, passou a trabalhar como modelo, o que abriu caminho para o cinema.

Brigitte Bardot durante visita ao Rio de Janeiro em janeiro de 1964 — Foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã
A consagração veio com E Deus Criou a Mulher (1956), dirigido por Roger Vadim, seu então marido. O filme escandalizou o público da época, foi censurado em diversos países e transformou Bardot em símbolo de sensualidade e autonomia feminina. Sua imagem — cabelos loiros propositalmente desalinhados, delineado marcante e postura irreverente — virou referência mundial.
Ao longo da carreira, estrelou cerca de 50 filmes, incluindo clássicos como A Verdade (1960), O Desprezo (1963), Viva Maria! (1965) e O Repouso do Guerreiro (1964). Também atuou como cantora e modelo, tornando-se uma das mulheres mais fotografadas do século XX.
Irreverência, relacionamentos e liberdade
A vida pessoal de Bardot sempre esteve sob os holofotes. Teve quatro maridos e diversos relacionamentos com artistas e músicos famosos, vividos sem discrição ou concessões sociais. Essa postura, rara para a época, consolidou sua imagem como símbolo da autonomia feminina em plena revolução sexual.
Em 1973, no auge da fama, Brigitte Bardot surpreendeu o mundo ao abandonar o cinema. Passou a dedicar a vida à defesa dos direitos dos animais, causa que marcou profundamente sua fase final e deu origem à Fundação Brigitte Bardot.
Janeiro de 1964: quando Bardot mudou para sempre Búzios
A passagem de Brigitte Bardot pelo Brasil é um capítulo decisivo de sua história — e da história fluminense. Em janeiro de 1964, ao desembarcar no Rio de Janeiro, provocou um verdadeiro frenesi. A imprensa nacional e internacional especulava um possível casamento com o então namorado, o produtor Bob Zagury, boato que a atriz negou em sua única entrevista coletiva no país.
Em busca de tranquilidade, Bardot seguiu para Búzios, então um vilarejo isolado, de difícil acesso e sem estrutura turística. Hospedada em uma casa simples na Praia de Manguinhos, viveu de forma discreta, caminhando à beira-mar e convivendo com moradores locais.
Apesar de algum assédio da imprensa, encontrou ali o refúgio que desejava. No entanto, sua presença atraiu fotógrafos, jornalistas e visitantes estrangeiros, tirando Búzios do anonimato.
De vila de pescadores a destino internacional
O impacto foi imediato. Surgiram as primeiras pousadas, restaurantes e uma nova economia baseada no turismo. Búzios passou a ser comparada a Saint-Tropez, cidade francesa que também ganhou projeção mundial após a presença de Bardot.
A atriz retornou ao balneário entre dezembro de 1964 e janeiro de 1965, mas encontrou um cenário já tomado pela imprensa. A perda do anonimato tornou a estadia desagradável, e ela deixou a cidade definitivamente após a virada do ano.
Mesmo sem nunca mais voltar, Bardot deixou um legado permanente.
Orla Bardot e memória eterna
Em 1999, Búzios inaugurou a Orla Bardot, com uma escultura em bronze da atriz criada pela artista Christina Motta. O local se tornou um dos cartões-postais mais fotografados da cidade e símbolo da transformação iniciada em 1964.
Seis décadas depois, a ligação entre Brigitte Bardot e Búzios segue viva, atraindo turistas do mundo inteiro e consolidando a cidade como um dos destinos mais emblemáticos do Brasil.