Um estudo inédito no Brasil está analisando a genética de pacientes que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, com o objetivo de avançar na medicina de precisão dentro do SUS. Coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento e financiado pelo Ministério da Saúde, o Projeto Ártemis-Brasil pretende identificar fatores genéticos associados ao risco da doença, à resposta aos tratamentos e à prevenção de novos episódios.
Genética e risco de AVC
O AVC isquêmico ocorre quando há a obstrução de uma artéria cerebral, impedindo a chegada de oxigênio às células do cérebro, o que pode levar à morte do tecido cerebral. Esse tipo representa cerca de 85% dos casos de AVC no país, segundo dados do Ministério da Saúde.
De acordo com a neurologista Ana Cláudia de Souza, investigadora principal do Projeto Ártemis-Brasil, o avanço no entendimento da genética humana permite compreender melhor como fatores hereditários influenciam o risco da doença.
Além do AVC em si, o estudo também avalia doenças associadas, como hipertensão arterial, diabetes, alterações no colesterol e distúrbios metabólicos, que aumentam a probabilidade de um evento cerebrovascular.
Medicina de precisão no SUS
Ao mapear o genoma humano, os pesquisadores buscam identificar padrões genéticos que ajudem a prever tanto o risco de desenvolver AVC quanto a resposta individual aos tratamentos.
A proposta é contribuir para o desenvolvimento de terapias mais eficazes e personalizadas, permitindo indicar medicamentos, estratégias de prevenção e cuidados específicos conforme o perfil genético de cada paciente.
Segundo a coordenação do projeto, essa abordagem pode abrir caminho para a medicina de precisão no Sistema Único de Saúde, ampliando a qualidade do cuidado oferecido à população.
Participantes e abrangência nacional
O estudo envolve 11 centros de referência no atendimento ao AVC, distribuídos por todas as regiões do Brasil. Todos atendem pacientes pelo SUS e são considerados unidades de alta complexidade.
A meta é incluir 1.000 participantes até o final de 2026, sendo:
- 500 pacientes que sofreram AVC isquêmico
- 500 pessoas sem histórico de AVC, para fins de comparação genética
A inclusão do primeiro participante ocorreu em novembro do ano passado, marcando o início efetivo da pesquisa.
Avanços no tratamento do AVC
Nas últimas duas décadas, o tratamento do AVC no Brasil evoluiu significativamente, especialmente na fase aguda da doença. Hoje, o SUS oferece terapias como:
- Trombólise, para dissolver coágulos
- Trombectomia mecânica, procedimento semelhante ao cateterismo cardíaco, que remove o coágulo diretamente dos vasos cerebrais
Apesar dos avanços, especialistas alertam para a necessidade de expandir esses tratamentos, principalmente em regiões com vazio assistencial, como partes do Norte e Nordeste.
Impacto do AVC no Brasil
O AVC segue como uma das principais causas de morte e incapacidade no país. Dados recentes indicam que:
- Mais de 85 mil pessoas morreram por AVC em 2024
- A doença causa, em média, 11 mortes por hora no Brasil
Além da mortalidade, o AVC gera sequelas graves, como perda da fala e da mobilidade, impactando diretamente famílias, pacientes e os custos do sistema de saúde.
Prevenção personalizada e futuro do projeto
A prevenção continua sendo uma das estratégias mais importantes no combate ao AVC, incluindo controle da pressão arterial, alimentação saudável, prática de exercícios físicos e abandono do tabagismo.
Com o Projeto Ártemis-Brasil, a expectativa é avançar para uma prevenção personalizada, baseada no perfil genético individual. O estudo também fortalece o Programa Genomas Brasil, que busca ampliar a representatividade da população brasileira em pesquisas genômicas globais.
Segundo os pesquisadores, o projeto pode futuramente ser expandido para outros países da América Latina, ampliando o impacto científico e social da iniciativa.