O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (7) elevar a taxa Selic de 14,25% para 14,75% ao ano. Esta é a sexta alta consecutiva dos juros básicos da economia brasileira, que agora alcançam o maior patamar desde 2006. A decisão, tomada em meio a um cenário de incertezas globais, já gera impacto direto nas contas públicas e provoca reações negativas do setor produtivo.
Com a nova elevação, o custo com os juros da dívida pública pode ultrapassar R$ 1 trilhão em 12 meses, segundo projeções do próprio Banco Central. Atualmente, a dívida pública supera R$ 7,4 trilhões e a Selic é um dos principais indexadores desse valor. Para cada ponto percentual de aumento na taxa, a despesa com juros sobe em mais de R$ 50 bilhões.
Em comunicado, o Copom justificou a decisão com base na alta dos preços de alimentos e energia, além das incertezas econômicas globais. A autoridade monetária não sinalizou qual será o próximo movimento, mas destacou que o momento exige “cautela adicional” na condução da política monetária.
Gastos públicos e orçamento sob pressão
De acordo com os últimos dados divulgados pelo BC, o governo gastou R$ 935 bilhões em juros nos 12 meses encerrados em março — um aumento de 25% em relação ao período anterior. Com o novo patamar da Selic, essa cifra deve atingir a marca histórica de R$ 1 trilhão em um ano.
O orçamento total previsto para 2025 é de R$ 5,8 trilhões. Desse valor, pouco mais de R$ 1 trilhão está destinado à Previdência Social. O valor da dívida, com os juros altos, já se aproxima de todo o orçamento anual do INSS.
Setor produtivo e sindicatos criticam decisão
Entidades representativas da indústria, do comércio e dos trabalhadores criticaram fortemente o aumento da Selic.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a decisão “impõe um fardo ainda mais pesado à economia”, em um momento de desaceleração. Para o presidente da entidade, Ricardo Alban, o Copom deveria adotar uma postura mais prudente.
A Associação Paulista de Supermercados avaliou como equivocada a continuidade da alta dos juros, principalmente diante de um cenário externo de recessão nos Estados Unidos. A entidade alertou para o risco de se priorizar o rentismo em detrimento da geração de empregos e do investimento produtivo.
Já a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) considerou a alta dentro do esperado. Segundo o economista-chefe Ulisses Ruiz de Gamboa, a inflação segue acima da meta e, diante da expansão fiscal, é necessário manter a política monetária contracionista.
As centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, reagiram com ainda mais veemência. A vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, acusou o Banco Central de manter os interesses do mercado financeiro. Já a Força Sindical classificou o aumento como uma “irresponsabilidade social” e alertou para o risco de recessão.
Impacto da Selic nos investimentos: renda fixa em alta
Com a Selic a 14,75% ao ano, investimentos em renda fixa se tornam ainda mais atrativos. Levantamento da plataforma Yubb mostra que aplicações como CDBs, LCIs, LCAs e debêntures incentivadas devem oferecer rendimentos reais (já descontada a inflação esperada de 5,53%) entre 1,72% e 10,59% ao ano.
Entre os destaques:
- Tesouro Selic: rendimento real de 5,87% ao ano
- CDB de banco médio: 7,53% ao ano
- Debênture incentivada: até 10,59% ao ano
- Poupança: rendimento real limitado a 1,72% ao ano
Títulos isentos de imposto de renda, como LCI, LCA e debêntures incentivadas, ganham ainda mais destaque no cenário atual.
Fontes:
brasildefato.com.br
agenciabrasil.ebc.com.br
istoedinheiro.com.br