João Victor, de Governador Valadares, foi deportado dos EUAFoto: Reprodução
O Brasil recebeu, nesta sexta-feira (7), um novo grupo de 111 brasileiros deportados dos Estados Unidos. Os voos pousaram inicialmente em Fortaleza (CE) e, posteriormente, seguiram para Belo Horizonte (MG) em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). Os repatriados relataram situações degradantes durante a detenção e o trajeto de retorno ao país.
Relatos de maus-tratos e condições precárias
Diversos brasileiros deportados denunciaram abusos e negligência por parte das autoridades norte-americanas. O mineiro Igor Gomes Soares afirmou que os brasileiros foram tratados “pior que animais” durante a viagem de repatriação. Algemados nos pés, mãos e cintura por mais de 24 horas, os deportados enfrentaram dificuldades até para pedir água ou usar o banheiro.
O mestre de obras Marcos Rosário da Silva, de Linhares (ES), relatou que passou 15 dias internado em um hospital nos EUA e perdeu mais de 10 quilos devido à má alimentação e às condições precárias na detenção. “Meu plano agora é tentar voltar ao trabalho para recuperar o prejuízo”, afirmou.
João Victor Batista Alves, motoboy de Governador Valadares (MG), também descreveu a experiência como traumática. “Depois de tanto tempo sendo maltratado, foi estranho ser bem tratado na chegada ao Brasil”, declarou. Ele permaneceu detido por um mês e cinco dias e agora pretende reconstruir sua vida no país natal.
Mudanças na política migratória dos EUA
Os deportados relataram que a situação dos imigrantes piorou após a posse de Donald Trump. João Victor afirmou que, a partir de 21 de janeiro, um dia após a posse do republicano, direitos básicos foram retirados dos detidos. “Não tínhamos mais direito nenhum de fala”, explicou.
O corretor de imóveis goiano César, deportado após quatro meses de detenção, reforçou essa percepção. “Jamais aconselho alguém a tentar entrar ilegalmente nos EUA agora. Estão deportando todos”, alertou.
Repatriação e apoio governamental
O governo brasileiro acompanhou a chegada dos repatriados, oferecendo acolhimento e assistência. Em Fortaleza, a recepção contou com a presença da secretária-executiva do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Janine Mello. Em Belo Horizonte, a ministra Macaé Evaristo esteve presente.

Avião com imigrantes ilegais brasileiros deportados dos EUA chega a Fortaleza — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Embora os homens tenham sido algemados durante o voo, mulheres e crianças não precisaram usar os equipamentos de contenção. Esse fato foi considerado um avanço em relação a voos anteriores, nos quais todos os deportados eram algemados.
Reflexão e recomeço no Brasil
Muitos deportados afirmaram que a experiência nos EUA os fez repensar suas perspectivas. João Victor, por exemplo, declarou que passou a valorizar mais o Brasil. “Aqui a gente está em casa”, disse. Já Fábio Júnior Siqueira, de Londrina (PR), afirmou que pretende focar na família e seguir em frente. “Dinheiro é importante, mas não preenche alguns espaços”, refletiu.
A estimativa é de que pelo menos 30 mil brasileiros estejam aguardando deportação nos Estados Unidos. O governo brasileiro busca garantir que esses cidadãos sejam tratados com dignidade e que o processo de repatriação ocorra de forma mais célere.