Marcelo Del Negri/MPF-RJ
O Ministério Público Federal (MPF) realizou uma inspeção no antigo Instituto Médico-Legal (IML) do Rio de Janeiro, na Lapa, e descobriu um acervo histórico com documentos da ditadura militar. O material encontrado pode esclarecer o paradeiro de desaparecidos políticos e revelar novas informações sobre as violações de direitos humanos cometidas entre 1964 e 1985.
A visita aconteceu na última quinta-feira (27) e contou com a participação de diversas instituições, incluindo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (Aperj), a Secretaria Estadual de Polícia Civil (Sepol) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, os grupos Tortura Nunca Mais e Memória, Verdade, Justiça e Reparação estiveram presentes na vistoria.
Descoberta pode ajudar na identificação de desaparecidos
Durante a inspeção, os especialistas identificaram documentos datados das décadas de 1930 e 1960. Entre os registros, há materiais que podem conter informações essenciais para localizar vítimas do regime militar e esclarecer episódios de tortura, perseguição e assassinatos políticos.
Felipe Nin, integrante do Coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação, ressaltou a relevância dessa descoberta. Segundo ele, registros do antigo IML já ajudaram a localizar 15 desaparecidos políticos, que estavam enterrados como indigentes no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. “Isso indica que outras vítimas também podem ser identificadas a partir desses documentos”, afirmou Nin.
O procurador Regional dos Direitos do Cidadão adjunto, Júlio Araujo, destacou a importância de preservar o material encontrado. “Foi constatada a presença de documentos de interesse histórico. A partir de agora, será fundamental debater e construir a coleta desses documentos e sua destinação ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro”, explicou o procurador.
A luta pela memória e justiça histórica
Para os grupos de direitos humanos, a descoberta representa um marco na luta pela memória e justiça no Brasil. Rafael Maui, do Grupo Tortura Nunca Mais, acredita que o acesso ao acervo pode ajudar na elucidação dos fatos e garantir que a história do país não seja esquecida. “O que vemos aqui é uma verdadeira abertura de arquivos da repressão, algo pelo qual lutamos há muito tempo”, declarou Maui.
A necessidade de preservar esse material levou os envolvidos a discutir um plano emergencial. Após a inspeção, uma reunião na sede da Procuradoria da República do Rio de Janeiro (PR/RJ) definiu os próximos passos. A principal meta é organizar e avaliar os documentos, além de definir um local adequado para sua guarda provisória.
Próximos passos
Diante da urgência em preservar o acervo, as instituições envolvidas propõem a criação de um grupo de trabalho ampliado. O objetivo é unir esforços de diferentes órgãos públicos e da sociedade civil para garantir a conservação e análise detalhada dos documentos.
Os participantes da inspeção reforçaram a necessidade de novas visitas ao antigo IML para mensurar a quantidade de registros históricos e avaliar seu estado de conservação. Em seguida, será definida a melhor estratégia para armazenar e catalogar o material encontrado.
A descoberta desse acervo reforça a importância da preservação da memória histórica do país. A expectativa é que, com a análise detalhada dos documentos, novas informações sobre o período da ditadura militar venham à tona, contribuindo para a justiça e a reparação histórica.
Fontes:
g1.globo.com
cnnbrasil.com.br
mpf.mp.br